13 de março de 2013

A Arte Moderna no Brasil


Anita Malfatti foi um dos nomes responsáveis por repensar a arte no Brasil. Porém, antes do reconhecimento, foi alvo de críticas extremamente negativas. Com o aprendizado e inspiração obtidos a partir dos estudos realizados na Alemanha e EUA, trouxe para o Brasil a tão temida arte moderna. Em 1917, nas sua primeira grande exposição individual, nomeada como Exposição de Pintura Moderna Anita Malfatti, recebeu ataques ferozes de Monteiro Lobato. Em artigo publicado no Estadinho, o escritor se delicia rebaixando a nova escola, conforme mostra Marcos Augusto Gonçalves em seu 1922 – A semana que não terminou:
O artigo começa por distinguir duas espécies de artistas: os que ‘veem normalmente as coisas’ e os que ‘veem anormalmente a natureza e a interpretam à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes’. Estes últimos seriam típicos dos períodos de decadência, ‘frutos de fim de estação, bichados ao nascedoiro’.

Se pararmos para pensar, um ataque desses se encaixaria perfeitamente aos ataques atuais, mudando o termo ‘arte moderna’ por ‘arte contemporânea’. Tento procurar alguma diferença, mas ao comparar o início do séc. XX com o atual, só encontro semelhanças. A ver: Por volta dos anos 1900, a Europa falava em futurismo e começava a conhecer grandes mestres como Van Gogh e Munch. Nos EUA, Duchamp e Edward Hopper principiavam seus nomes. Já no Brasil, os artistas que ainda eram consagrados eram Pedro Américo e Almeida Jr., sendo este considerado por Lobato o grande inventor da pintura nacional. A arte acadêmica era considerada superior e movimentos como cubismo, por exemplo, serviam apenas para caricatura. Futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros tantos ramos de arte caricatural, exclamava Lobato. Inclusive o termo ‘impressionismo’ era utilizado a esmo, mesmo quando o movimento comentado se tratava d’outro, mostrando desinformação e desinteresse dos críticos. Diz Anita Malfatti, em depoimento à revista Salão de Maio, em 1939, que, ao retornar da Alemanha para o Brasil, “ninguém em sua casa queria saber de Van Gogh, Cézanne ou Kandinsky. Só perguntavam pela Mona Lisa e pelas glórias do Renascimento italiano” (GONÇALVES, 2012, p. 75). No século XXI, a famosa frase em exposições é “até eu faria isso”, e a nostalgia é grande quando comparam arte moderna e contemporânea com renascimento e declaram haver algum problema com a arte atual, reclamando dos artistas e suas obras, como Voltaire Schilling e seu discurso careta e sem estrutura, por volta de 2009. Formadores de opinião, os críticos levam as massas consigo e criam um exército de nostálgicos, incapazes de entender e apreciar seu estado presente.
Retornando à exposição de Malfatti, Oswald de Andrade, em breve texto publicado peloJornal do Comércio, responde para Monteiro Lobato da seguinte maneira:
Possuidora de uma alta consciência do que faz, [...] a vibrante artista  não temeu levantar  com os seus cinquenta trabalhos as mais irritadas opiniões e as mais contrariantes hostilidades. Era natural que elas surgissem no acanhamento da nossa vida artística. A impressão inicial que produzem seus quadros é de originalidade e de diferente visão. As suas telas chocam o preconceito fotográfico que geralmente se leva no espírito para as nossas exposições de pintura. A sua arte é a negação da cópia, a ojeriza da oleografia. 
A preocupação na época era romper com o realismo, mas o medo do novo predominava, assim como ainda predomina. O que mais entristece é ter consciência que, apesar da facilidade de informação que possuímos atualmente, temos um pequeno alcance de visão, nos mantendo assim amarrados e impedindo um crescimento maior da nossa cultura.

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